sábado, 27 de fevereiro de 2010

Galo na Literatura

Por Lucas Galo Doido.
Tenho alguns amores na minha vida. Dois dos mais fortes são o Atlético Mineiro e a Literatura. O engraçado é que desde os primeiros dias de vida do Atlético, a Literatura anda de mãos dadas. Quer ver?
A primeira partida do Atlético foi realizada no dia 21 de março de 1909. O jogo, contra a primeira equipe de Belo Horizonte, o Sport Club Football terminou com uma vitória por 3 a 0 para o Galo. O autor do primeiro gol: Um menino magricela de 14 anos apelidado de Pingo.
O nome verdadeiro de Pingo era Aníbal Machado, que anos depois de entrar para a história do futebol mundial entraria para a história da Literatura Brasileira, se tornando um grande escritor. Entre suas obras, destacam-se Viagem aos Seios de Duília; Tati, a Garota; e A Morte da Porta-Estandarte.
Avançando quase um século na história, o Atlético ainda é presença na Literatura, mesmo aquela pouco - ou nada - relacionada ao futebol. Em 2004, a Conceito Comunicação lança a coleção BH - A cidade de cada um. São (até agora, em 2010) 17 livros que contam a história de lugares importantes da cidade a partir das memórias do autor de cada um deles. E o Atlético é presença constante em alguns títulos, tais como Parque Municipal (do atleticano Ronaldo Guimarães); Estádio Independência (do grande cronista Jairo Anatólio Lima - que conta histórias interessantíssimas do Maior de Minas); e faz umas pontinhas em Fafich (da atleticana Clara Arreguy) e Pampulha (de Flávio Carsalade). Contando as próprias memórias, como os jogos de botão e bolas com os escudos do time que Ronaldo Guimarães ganhava ainda criança, quando morava no Parque Municipal (onde nasceu o Atlético); e a trágica final do Campeonato Brasileiro de 1977 que Clara Arreguy assistiu em seus tempos de membro de movimentos estudantis contra a Ditadura Militar; ou as partidas memoráveis do Atlético no Gigante do Horto e mesmo a alegria da população da Pampulha em 1971, o Galo Mineiro é presença na coleção de livros que recomendo a qualquer um que seja apaixonado por Belo Horizonte, ou mesmo por boas histórias.
Até na literatura infanto-juvenil, pode-se ver o Atlético nas páginas dos livros. Em Uma História de Futebol, de José Roberto Torero, o pai do menino Dico, personagem principal machucou o joelho enquanto fazia "um teste no Atlético Mineiro, um time muito importante". Dico, anos depois da história, viria a se tornar Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Seu pai, Dondinho, realmente fizera um teste no Atlético, mas se realmente se machucou no teste ou não, não posso dizer.
Mas, se tratando de Literatura e do Atlético Mineiro, é impossível deixar de citar aquele que soube como ninguém retratar o que é ser atleticano, Roberto Francis Drummond. O autor da frase que inspirou o título deste blog (Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento) era apaixonado pelo Atlético e por Belo Horizonte, presenças constantes em seus livros.
A começar por sua obra mais conhecida, Hilda Furacão. A própria personagem principal é, segundo José Anatólio Lima, inspirada na esposa de Paulo Valentim, famoso jogador do Atlético nos anos 50. No livro (que ainda não terminei de ler) nomes importantes do time como Kafunga, Zé do Monte e Cidinho Bola Nossa (o bandeirinha que, quando o escanteio era pro Galo, dizia que era "bola nossa!") aparecem aqui e ali, assim como o time, responsável pelo não comparecimento da população no protesto a favor da transposição da zona boêmia da cidade para a periferia. Explica-se: Na hora do protesto, o Atlético enfrentava o Santos no Independência e quase todos (incluindo o Bispo de Belo Horizonte e a própria Hilda Furacão) preferiram assistir ao jogo.
O Atlético também aparece em outras obras de Drummond. Em Inês é Morta, o irmão de Jonas Silveira, o personagem principal, é torcedor do Atlético e sua única alegria era ouvir os gols de Dadá Maravilha pela rádio. No mesmo livro, o ditador-presidente do Brasil seria assassinado no Mineirão, numa partida entre Atlético e Flamengo, quando Dadá marcasse o primeiro gol. Além deste livro, o Atlético ainda aparece, de forma desagradável, em Ontem A Noite Era Sexta-Feira. Num fato nada importante para a história, o Galo é goleado pelo maior rival, cujo nome não citarei em homenagem à família atleticana.
Claro que o Atlético é citado em outros inúmeros livros. Só citei estes por já tê-los lido. Você, leitor do Eu Torço Contra o Vento, conhece alguma dessas histórias? Conhece outras? Compartilhe conosco.