quinta-feira, 25 de março de 2010

Respondendo a Roberto Drummond

Por Lucas Mineiro

Em sua maravilhosa crônica “Para torcer contra o vento”, o grande Roberto Drummond faz uma série de perguntas sobre um dos maiores patrimônios da Humanidade e, se me derem licença, as responderei.

“Ah, o que é ser atleticano?” Ser atleticano é ir do Céu ao Inferno em questão de dias e saber que retornará ao topo mais forte. É ter orgulho de suas cores, de sua história, de suas conquistas. Como o próprio Drummond disse, é torcer contra o vento. É ser injustiçado, roubado e caçoado por pessoas que, na verdade, têm inveja de tudo conquistado pelo Galo. É sair pelas ruas vestindo o Manto Sagrado com o maior orgulho do mundo e mostrar às pessoas que ali tem um torcedor atleticano, e não um simpatizante qualquer.

“É uma doença?” Sim. É uma doença que é passada geneticamente e transmitida pelo ar. Quem vai ao Mineirão e o vê lotado pela Massa acaba contaminado e não existe cura para isso. Acredito que nunca desenvolverão uma cura. Ainda bem, pois sou o doente mais feliz do mundo!

“Doidivanas paixão?” Doidivanas, não tenho certeza. Mas certamente é uma paixão. Em seu sentido original, paixão quer dizer um sofrimento causado por amor. E atleticano sofre! Não por causa do time, mas por causa da arbitragem, nossa eterna inimiga. Sempre há um José de Assis Aragão, um José Roberto Wright, um Márcio Resende de Freitas, ou um Carlos Eugênio Simon, entre tantos outros, para estragar nossa festa. Sempre há um Flamengo, um Corinthians ou um Botafogo que não consegue vencer o Atlético com força própria, então precisa de um empurrãozinho para facilitar as coisas. Eles que nos esperem. Parecem não saber o que diz nosso hino: “Clube Atlético Mineiro, Galo forte vingador!”

“Religião pagã?” Sim. Somos seguidores de uma religião pagã e politeísta. Temos vários deuses e salvadores como Reinaldo, Dadá, Éder, João Leite, Jairo, Said, Mário de Castro, Ubaldo Miranda (meu conterrâneo), Kafunga, Taffarel, Marques, Guilherme, Gilberto Silva e mais uma infinidade de deuses, santos e heróis que vestiram o Manto Sagrado. É uma injustiça não colocar o nome de todos aqui, mas se eu o fizesse, teria de escrever um livro, e não uma crônica.

“Bênção dos Céus?” Sim. Ser atleticano é a maior bênção que podemos receber. É impossível que tamanha força, que leva milhões aos estádios independentemente do dia, da hora, das condições do tempo (não se esqueçam que o atleticano torce contra o vento) ou de qualquer outro fator seja algo terreno.

“É a sorte grande?” Bem, a pergunta final já foi respondida através das outras respostas. Apesar de toda roubalheira e injustiça que enfrentamos nesses 102 anos de história, somos felizes, apaixonados, vencedores e acima de tudo fiéis. Os atleticanos são conhecidos por sua fidelidade e apoio ao time em todos os momentos. E isso não é ter a sorte grande?

Infelizmente não pude entregar essa resposta pessoalmente a Roberto Drummond. Esse atleticano de valor se foi numa noite de junho de 2002, em plena Copa do Mundo, deixando uma legião de fãs e de atleticanos órfãos do talento inigualável do escritor que conseguiu, como ninguém mais, retratar a emoção de ser atleticano. Mas sei que, independentemente de onde esteja, ele está lendo isso. E espero que esteja gostando.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Somos todos atleticanos, devemos torcer contra o vento!

Por Lucas Mineiro
Os anos 2000 não foram nada fáceis pra Nação Atleticana. Hegemonia do maior rival no estadual, campanhas pífias no Brasileiro, rebaixamento, não participação de uma Libertadores que estava quase garantida... Coisas que transformariam um grande clube qualquer num clube mediano, ou até pequeno. Transformariam um clube qualquer, mas não o Clube Atlético Mineiro. E a maior responsável pela manutenção da grandeza é justamente a torcida. A torcida que, mesmo no rebaixamento não deixou de cantar o hino no Mineirão, a torcida que, durante a campanha da série especial sempre lotou as arquibancadas, a torcida que sempre torceu contra o vento...

Pois é, torcer contra o vento... O grande mestre Roberto Drummond certa vez escreveu que “se houver uma camisa preta e branca pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”. Essa semana, penduraram uma camisa que penduraram no varal uma camisa de outra cor, ao lado da preta e branca e muitos atleticanos deixaram de torcer contra o vento. Não quero aqui dar minha opinião sobre a camisa de treinamento, a cor dela é o que menos me preocupa. O que está me preocupando é a guerra civil que se instaurou dentro da torcida mais fanática do mundo.

Que loucura é essa que estão postando no orkut de atleticano bater em atleticano que for de rosa ao Mineirão? Que maluquice é essa de fazer arrastão, arrancando as camisas que torcedores atleticanos? Brigar com torcida adversária já é errado, brigar com torcedores atleticanos é pior ainda!

Não somos uma simples torcida de futebol. Somos uma nação, uma religião, somos algo único na história do futebol mundial. Nem nos momentos mais difíceis deixamos de apoiar o Atlético. Nem nas maiores crises deixamos de vestir a camisa do Atlético, independente de sua cor, com o maior orgulho do mundo, não deixamos de cantar o hino na arquibancada e acima de tudo, não brigamos entre nós mesmos! Não acredito que será uma camisa rosa usada apenas em treinamento que vai acabar com a união da nossa torcida.

O Kalil, a Topper, a diretoria do Galo erraram ao escolher a cor da camisa de treino? Talvez sim, talvez não. Não devemos nos esquecer é que somos todos torcedores atleticanos. Todos nós torcemos por um único time, todos nós devemos torcer contra o vento, independente da cor da camisa no varal.

Saudações atleticanas e, acima de tudo, PAZ!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Galo na Literatura

Por Lucas Galo Doido.
Tenho alguns amores na minha vida. Dois dos mais fortes são o Atlético Mineiro e a Literatura. O engraçado é que desde os primeiros dias de vida do Atlético, a Literatura anda de mãos dadas. Quer ver?
A primeira partida do Atlético foi realizada no dia 21 de março de 1909. O jogo, contra a primeira equipe de Belo Horizonte, o Sport Club Football terminou com uma vitória por 3 a 0 para o Galo. O autor do primeiro gol: Um menino magricela de 14 anos apelidado de Pingo.
O nome verdadeiro de Pingo era Aníbal Machado, que anos depois de entrar para a história do futebol mundial entraria para a história da Literatura Brasileira, se tornando um grande escritor. Entre suas obras, destacam-se Viagem aos Seios de Duília; Tati, a Garota; e A Morte da Porta-Estandarte.
Avançando quase um século na história, o Atlético ainda é presença na Literatura, mesmo aquela pouco - ou nada - relacionada ao futebol. Em 2004, a Conceito Comunicação lança a coleção BH - A cidade de cada um. São (até agora, em 2010) 17 livros que contam a história de lugares importantes da cidade a partir das memórias do autor de cada um deles. E o Atlético é presença constante em alguns títulos, tais como Parque Municipal (do atleticano Ronaldo Guimarães); Estádio Independência (do grande cronista Jairo Anatólio Lima - que conta histórias interessantíssimas do Maior de Minas); e faz umas pontinhas em Fafich (da atleticana Clara Arreguy) e Pampulha (de Flávio Carsalade). Contando as próprias memórias, como os jogos de botão e bolas com os escudos do time que Ronaldo Guimarães ganhava ainda criança, quando morava no Parque Municipal (onde nasceu o Atlético); e a trágica final do Campeonato Brasileiro de 1977 que Clara Arreguy assistiu em seus tempos de membro de movimentos estudantis contra a Ditadura Militar; ou as partidas memoráveis do Atlético no Gigante do Horto e mesmo a alegria da população da Pampulha em 1971, o Galo Mineiro é presença na coleção de livros que recomendo a qualquer um que seja apaixonado por Belo Horizonte, ou mesmo por boas histórias.
Até na literatura infanto-juvenil, pode-se ver o Atlético nas páginas dos livros. Em Uma História de Futebol, de José Roberto Torero, o pai do menino Dico, personagem principal machucou o joelho enquanto fazia "um teste no Atlético Mineiro, um time muito importante". Dico, anos depois da história, viria a se tornar Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Seu pai, Dondinho, realmente fizera um teste no Atlético, mas se realmente se machucou no teste ou não, não posso dizer.
Mas, se tratando de Literatura e do Atlético Mineiro, é impossível deixar de citar aquele que soube como ninguém retratar o que é ser atleticano, Roberto Francis Drummond. O autor da frase que inspirou o título deste blog (Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento) era apaixonado pelo Atlético e por Belo Horizonte, presenças constantes em seus livros.
A começar por sua obra mais conhecida, Hilda Furacão. A própria personagem principal é, segundo José Anatólio Lima, inspirada na esposa de Paulo Valentim, famoso jogador do Atlético nos anos 50. No livro (que ainda não terminei de ler) nomes importantes do time como Kafunga, Zé do Monte e Cidinho Bola Nossa (o bandeirinha que, quando o escanteio era pro Galo, dizia que era "bola nossa!") aparecem aqui e ali, assim como o time, responsável pelo não comparecimento da população no protesto a favor da transposição da zona boêmia da cidade para a periferia. Explica-se: Na hora do protesto, o Atlético enfrentava o Santos no Independência e quase todos (incluindo o Bispo de Belo Horizonte e a própria Hilda Furacão) preferiram assistir ao jogo.
O Atlético também aparece em outras obras de Drummond. Em Inês é Morta, o irmão de Jonas Silveira, o personagem principal, é torcedor do Atlético e sua única alegria era ouvir os gols de Dadá Maravilha pela rádio. No mesmo livro, o ditador-presidente do Brasil seria assassinado no Mineirão, numa partida entre Atlético e Flamengo, quando Dadá marcasse o primeiro gol. Além deste livro, o Atlético ainda aparece, de forma desagradável, em Ontem A Noite Era Sexta-Feira. Num fato nada importante para a história, o Galo é goleado pelo maior rival, cujo nome não citarei em homenagem à família atleticana.
Claro que o Atlético é citado em outros inúmeros livros. Só citei estes por já tê-los lido. Você, leitor do Eu Torço Contra o Vento, conhece alguma dessas histórias? Conhece outras? Compartilhe conosco.